Um dos criadores do Cinema Novo, diretor de 18 filmes, entre eles os antológicos Xica da Silva, Bye Bye Brasil, Quando o Carnaval Chegar e Chuvas de Verão, membro da Academia Brasileira de Letras – na cadeira que foi de Euclides da Cunha –, Cacá Diegues faz parte da história sociocultural do Brasil e completou 80 anos, no último dia 19 de maio. Impossível falar de cinema brasileiro – pelo menos dos últimos 60 anos – sem se citar seu nome.
Nascido Carlos José Fontes Diegues em Maceió (AL), Cacá se mudou com os pais para o Rio de Janeiro aos seis anos de idade – e lá fez sua história. Que começou, de fato, quando foi cursar Direito na PUC em finais dos anos 1950 e, mais interessado em cinema do que em leis, fundou um cineclube e iniciou suas atividades de cineasta amador tendo como companheiros David Neves e Arnaldo Jabor, que estariam por perto durante toda sua longa carreira.
Ainda na PUC, dirigiu o jornal O Metropolitano, ligado à União Metropolitana dos Estudantes – e o jornal foi seu trampolim para o Centro de Cultura Popular da União Nacional dos Estudantes. E foi a partir da proximidade com o histórico CPC que Cacá e nomes como Leon Hirszman, Glauber Rocha e Paulo César Saraceni lançaram as bases para aquilo que viria a ser conhecido como Cinema Novo.
A teoria de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, no caso de Cacá, começou a se materializar em 1962, quando ele dirige seu primeiro filme profissional em 35 mm, Escola de Samba Alegria de Viver, na verdade um dos episódios do longa Cinco Vezes Favela (os demais episódios são dirigidos por Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges).
Foi apenas o começo de uma carreira que prometia, de fato, ser prolífica. Entre 1964 e 1969, ele dirige seus primeiros longas-metragens – Ganga Zumba (1964), A Grande Cidade (1966) e Os Herdeiros (1969) –, todos com a marca registrada do Cinema Novo: voluntarismo, uma certa utopia e a vontade de mudar, a partir da arte, um país enredado em uma ditadura militar que cada vez mais apertava seus grilhões.
Foi no seu retorno do exílio, na Europa (1968-1972) que Cacá acabou por dirigir as obras que consolidaram seu nome como um dos mais importantes do cinema nacional. Quando o Carnaval Chegar (1972), Joanna Francesa (1973) – ambos com trilha de outro ex-exilado, Chico Buarque – e, principalmente, Xica da Silva (1976), seu maior sucesso popular, pavimentam de vez seu caminho. Mas não arrefecem seu tom polemista e crítico.
Em 1979 dirigiu um de seus filmes mais emblemáticos: Bye Bye Brasil, em que mostra – a partir de uma trupe mambembe liderada por “Lorde Cigano” (José Wilker) – um Brasil que a maioria da população não via nas telas edulcoradas da TV. “Para Vigo me voy”, bradava o personagem de Wilker. E se embrenhava cada vez mais em um país pobre, desestruturado e que precisava ser apresentado aos brasileiros.
Talvez seja este, no final das contas, o grande condão de Cacá Diegues: mostrar o que precisa ser visto, com delicadeza e poética autorais, mas também com precisão e atualidade. Seja o amor na terceira idade de Chuvas de Verão, seja a picaresca história de Deus é Brasileiro, ou o onírico Grande Circo Místico. Ou, quem sabe, com a mensagem tão necessária para os tempos atuais, emitida pelo título de um filme de 1989: Dias Melhores Virão.
Filmografia:
O Grande Circo Místico (2018)
Rio de fé (2013)
Nenhum Motivo Explica a Guerra (2006)
O Maior Amor do Mundo (2006)
Deus é Brasileiro (2003)
Orfeu (1999)
Tieta do Agreste (1996)
Veja Esta Canção (1994)
Dias Melhores Virão (1989)
Um Trem Para as Estrelas (1987)
Quilombo (1984)
Bye Bye Brazil (1980)
Chuvas de Verão (1978)
Xica da Silva (1976)
Joanna Francesa (1973)
Quando o Carnaval Chegar ( 1972)
Os Herdeiros (1970)
Oito Universitários (1967)
A Grande Cidade (1966) Oitava Bienal de São Paulo (1965)
Ganga Zumba (1963)
Cinco vezes Favela – curta “Escola de Samba Alegria de Viver” (1962)
Domingo (1961)
Fuga (1960)
Fontes: Jornal da USP e Cinemateca do MAM-RJ