Em maio, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou uma pesquisa sobre o mercado de trabalho. O levantamento mostrou que, com o avanço do coronavírus, o desemprego havia aumentado em todas as regiões do país, fazendo com que a taxa de desocupação passasse de 11%, no fim de 2019, para 12,2%, no trimestre encerrado em março de 2020 (aumento de 1,2 milhão de desempregados).
Com este panorama, um dos conceitos mais presentes atualmente é o da “reinvenção” para se adaptar a novos estilos, métodos e até setores de trabalho.
Se há alguns meses a aplicação da tecnologia para reuniões em entrevistas era ainda feita em regime experimental por uma maioria, com a necessidade de distanciamento social todo um ambiente corporativo teve de esquecer as reuniões presenciais e aderir ao sistema virtual.
A adesão ao home office já é certa para muitos escritórios, pelo menos até o fim do ano, Isso se dá numa tentativa de enxugar diversos custos fixos com estrutura, neste momento de crise econômica, mas também a partir da conclusão de que o trabalho tem fluído bem partir da casa de cada profissional.
Para Flora Victória, mestre em Psicologia Positiva, o home office é uma saída muito interessante para a manutenção da economia de forma consciente, contudo é importante notar que para alguns a mudança brusca ainda provoca dúvidas.
Uma pesquisa recente realizada com duas mil pessoas de todas as idades e de todo o país verificou que 73% dos profissionais preferem não trabalhar de casa em tempo integral, depois da pandemia por razões como a invasão de seu espaço pessoal e a falta de convívio social.
“Há muitos estudos que comprovam que a sociabilidade só contribui para a saúde mental do ser humano, ela nos constitui e a partir dela o indivíduo aprende a confiar em si mesmo e não temer o mundo. Por isso, mesmo que o trabalho seja feito a partir da residência de cada um, este convívio não pode ser abandonado, mesmo que a princípio tenha de ser via ferramentas tecnológicas, inúmeras hoje em dia, que possibilitam esta interação social”, explica Flora.
Mercado de trabalho exige novos padrões de comportamento
Além da mudança do campo físico para o virtual, outra que se anuncia engloba as características deste novo profissional, as chamadas soft skills.
“Independência e autogestão serão fundamentais”, cita Flora. “Embora a característica de se autogerir tenha sido vista com muita positividade nos últimos anos, com o isolamento social essa capacidade de organização individual, com foco nas tarefas relevantes de sua ocupação, passa a ser um dos grandes diferencias para se manter ativo e relevante no mercado de trabalho”, completa.
Isso, absolutamente, significa viver fechado em seu próprio mundo, e sim agir de uma maneira mais responsável e engajada. Flora menciona uma pesquisa, publicada no Journal of Neuroscience que aponta que o egocentrismo é um traço que pode ser considerado normal no ser humano, mas existe uma área do cérebro que ajuda a regular o egoísmo, chamada “giro supramarginal”. Uma vez que esta estrutura está em seu pelo funcionamento, a empatia vem à tona.
Para Flora a empatia será a tônica das relações de trabalho no futuro, desde o gesto mais simples, como o uso de uma máscara e o lavar das mãos quando for necessário ter um encontro pessoalmente, como já vem ocorrendo agora, à colaboração profissional em diversos níveis.
E embora, a empatia dependa de conexões neuronais, desenvolvidas principalmente durante a infância, na chamada “janela de oportunidade”, hoje se sabe, como mostra o Journal Social Neuroscience, que habilidades empáticas podem ser aprendidas por meio de estimulação social e emocional, independente da idade.
“No momento, estamos combatendo uma pandemia que gera medo, ansiedade pela própria vida e a dos demais, mas acredito que nos próximos anos conseguiremos detectar como esta limitação foi capaz de dar direcionamentos mais saudáveis para as relações humanas, inclusive, as de trabalho”, afirma a especialista.