Compositor romântico e um dos principais gênios de sua geração, nascido em uma família judia na região da Boêmia, hoje República Tcheca, Gustav Mahler faria 160 anos em 7 de julho.
É considerado um autor de transição, pois fez a ponte entre a tradição germânica do século XIX e os modernistas do século XX, como Stravinsky e Schönberg.
Suas principais influências foram Beethoven, Wagner e Bruckner, de quem era amigo. Foi casado com Alma Mahler, mulher de personalidade forte que também era compositora. Viveram em Viena, na Áustria, na fase em que a cidade era a capital cultural do mundo.
Mahler morreu aos 50 anos enquanto escrevia sua décima sinfonia — como Beethoven, seu ídolo. As homenagens em todo o mundo mostram que seu legado viverá para sempre.
Na internet
Com o cancelamento presencial do evento internacional Mahler Festival, na Holanda, em decorrência da pandemia do coronavírus, apresentações das nove sinfonias do compositor pela excepcional orquestra RCO (Royal Concertgebouw Orchestra), de Amsterdã, celebram na internet os 160 anos do nascimento de um dos maiores nomes da música erudita. A homenagem adiada teria reunido as filarmônicas de Berlim, Viena e Nova York.
Marco histórico no calendário da música erudita, durante o Mahler Festival orquestras e maestros do mundo inteiro são convidados a apresentar versões para as nove sinfonias de Mahler e “Das Lied von der Erde” (Canção da Terra), seu poema composto por seis canções.
A primeira edição do evento, realizada há cem anos, em 1920, celebrou os 25 anos do maestro holandês Willem Mengelberg à frente da RCO, um dos maiores divulgadores de Mahler no mundo. A segunda edição do festival, em 1995, contou com a participação de maestros como Claudio Abbado, Simon Rattle e Ricardo Muti, entre outros.
Experiência transformadora
O contrabaixista brasileiro Pedro Gadelha, que hoje toca na Orquestra do Estado de São Paulo (Osesp), se apresentou no festival de 1995 com a Filarmônica de Berlim. Foram três concertos. Dois sob a regência de Claudio Abbado (Sinfonias 5 e 9) e uma com o maestro Bernard Hitink (Sinfonia 6).
“Tocar o repertório de Mahler é sempre uma experiência transformadora porque ele foi um compositor que também era regente. Usava a formação dos músicos para criar um efeito único, uma massa sonora que envolve a orquestra em diferentes planos”, afirma Gadelha.
O músico também ressalta a atmosfera da sala de concertos de Amsterdã. “É uma sala intensa, fascinante, de som cálido e vivo. Tem uma aura muito especial.” Do palco, é possível ver uma placa com o nome “Mahler” no camarote que ele costumava ocupar.
Terceira edição
A terceira e histórica edição do Mahler Festival receberia orquestras ilustres. Entre elas as filarmônicas de Berlim, Viena e Nova York, como já dissemos. Mas em decorrência da pandemia teve de ser substituída por uma série de apresentações online da RCO – o evento presencial foi adiado para maio de 2021.
Enquanto não chega, é possível assistir à edição online no canal do Youtube da RCO e no site da Mahler Foundation. A instituição é presidida por Marina Mahler, neta do compositor e organizadora do festival.
Os concertos trazem a RCO sendo regida por nomes como Lorin Maazel, Bernard Haitink e Mariss Jansons, entre outros. A entidade também promove conteúdo especial, como a série de mini-documentários “Mahler’s Universe”, com informações sobre as sinfonias, e “Mahler Memories”, onde músicos compartilham experiências.
Nos documentários, por exemplo, descobre-se que “Das Lied von der Erde”, a “Canção da Terra”, foi uma das primeiras obras a promover o meio ambiente, em 1911. “Quero ser lembrado como o ‘Cantor da Natureza’”, afirmou Mahler.
Quarentena criativa
Em agosto de 1892, uma epidemia de cólera atingiu a cidade de Hamburgo, na Alemanha. Gustav Mahler estava a caminho do local para uma temporada no teatro Stadttheather. Um ano antes, ele havia pedido demissão da Ópera Real da Hungria, em Budapeste, para assumir como principal regente da orquestra de Hamburgo.
Apesar da orientação para que seguisse ao trabalho, Mahler desafiou seu novo patrão e decidiu se isolar na região de Berchtesgaden, na Bavária, perto de Munique, até que a pandemia tivesse passado.
Ao sair da quarentena, revelou ao mundo a Sinfonia da Ressurreição, a de número 2, obra de recursos incomparáveis que começa em dó menor e termina em mi bemol maior – uma genialidade.