O turismo brasileiro perdeu R$ 51,5 bilhões em faturamento durante a pandemia de covid-19, entre março e novembro de 2020. É o que mostra levantamento realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP): rombo de 33,4% a menos nas receitas do setor em comparação ao mesmo período de 2019.
Depois de registrar queda de 32% no faturamento em outubro de 2020, o prejuízo ficou semelhante a novembro, mesmo com a redução da curva de contaminação à época: 30%, com retração de R$ 10,2 bilhões. Os dados levam em conta os setores aéreo, hoteleiro, de serviços turísticos, de transporte e de atividades culturais, recreativas e esportivas.
Os resultados negativos foram puxados principalmente pelo desempenho do setor aéreo. Segundo os dados da Federação, ele perdeu metade do faturamento anual em meio à crise: 50,5% a menos do que no mesmo período de 2019. Com demanda mais baixa, caiu em mais de um terço (36%) a oferta de assentos nos aviões, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O cenário neste começo do ano também não parece promissor: uma pesquisa feita por buscadores de passagens aéreas que integram o Conselho de Turismo (CT) da FecomercioSP indica que a procura por bilhetes no início de 2021 está 40% menor do que no mesmo período de 2020, às vésperas da pandemia. Para a entidade, o número mostra um movimento no qual – em meio ao aumento de casos e mortes por covid-19 – as pessoas estão agindo com cautela no planejamento de viagens.
Depois das companhias aéreas, os setores turísticos que mais sofreram nos meses mais intensos da pandemia foram os de atividades culturais, recreativas e esportivas, que viram o faturamento cair 28,4% no período, e a rede hoteleira, que, com receitas em R$ 3,17 bilhões entre março e novembro, somaram prejuízo de 26,6% se comparadas a 2019.
Essa retração expressiva se observa também pela taxa de ocupação de leitos de hotéis no País: em outubro do ano passado, por exemplo, ela estava em apenas 31% – número 51% menor do que no mesmo mês de 2019, segundo levantamento do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), que também integra o Conselho de Turismo da FecomercioSP.
Por fim, ainda registraram perdas substanciais as agências de locação de transporte ou de turismo (-12,2%) e as empresas de transporte terrestre, como companhias rodoviárias (-8,3%).
FecomercioSP pede prorrogação de lei federal
Os números preocupantes do turismo brasileiro ao longo de 2020 enfatizam assim a importância de o governo federal prorrogar a Lei 14.046/2020 e parte da Medida Provisória (MP) 948/2020, que, entre outras coisas, dispensa a necessidade de reembolso imediato de eventos ou viagens canceladas e estabelece regras para remarcações e cancelamentos.
Pelas normas, é possível que os agentes do setor reembolsem os clientes em até 12 meses após a data da compra do serviço, por exemplo, além de terem mais liberdade para negociar diretamente sobre novos prazos.
No entendimento da Federação, o fim dessas condições fará com que as empresas, já afetadas significativamente pela pandemia, ainda tenham que arcar com os custos imediatamente – o que, para muitas delas, pode significar até o fim de suas atividades. O modelo de 12 meses, assim, não apenas alivia o caixa dos agentes do turismo, como permite que mais empregos sejam mantidos.
Nota metodológica
O estudo é baseado nas informações da Pesquisa Anual de Serviços com dados atualizados com as variações da Pesquisa Mensal de Serviços, ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números são atualizados mensalmente pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), e foram escolhidas as atividades que têm relação total ou parcial com o turismo. Para as que têm relação parcial, foram utilizados dados de emprego ou de entidades específicas para realizar uma aproximação da participação do turismo no total.