A abertura de dois processos de licitação para contratação de empresas de serviços em solo em todo Brasil no apagar das luzes de 2024 colocou a aviação brasileira em situação de alerta. Empresas aéreas e aeroportos fazem pressão para redução de custos dos serviços auxiliares do transporte aéreo (manuseio de carga aérea e bagagem, movimentação de aeronaves no solo, transporte e atendimento a passageiros, limpeza e desinfecção interna de aeronaves, raio x e outras medidas de combate ao terrorismo). A atitude ameaça dramaticamente os investimentos no setor, tais como equipamentos mais modernos e sustentáveis e capacitação de mão de obra.
Na segunda quinzena de 2024, duas companhias aéreas abriram processos de licitação (RFP – Request For Proposal) para contratar novas empresas de ground handling em todo país, dando menos de 15 dias para a formalização das novas propostas. Pior que isso, contratos com outras empresas estavam em vigor em todo país.
Segundo dados recentes da ANAC, Banco Central, Petrobrás e ABEAR, as despesas com ground handling, assim como comissaria, limpeza etc compõem 3% do custo total de uma operação aérea no Brasil. É ilógico buscar economia pífia nos custos ao tempo em que se utiliza o achatamento exagerado em setor tão essencial para o transporte aéreo.
“A abertura de processos de contratação com empresas com contrato em vigor mostra assim a fragilidade da relação entre empresas aéreas e aeroportos, em relação aos prestadores de serviços especializados em solo”, afirma o presidente da Abesata (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Auxiliares do Transporte Aéreo), Ricardo Aparecido Miguel.
Para ele, isso precariza a aviação como um todo porque impede que as empresas de ground handling possam fazer investimentos em treinamento de mão de obra e em equipamentos. A frota de movimentação hoje ainda utiliza majoritariamente combustíveis fósseis e exige constantemente renovação ou manutenção.
“Esta flagrante pressão por custos coloca em risco a segurança operacional especialmente em plena alta temporada”, explica. A aviação brasileira não pode estar sujeita à pressão das companhias aéreas ou até mesmo dos aeroportos por suas metas financeiras ou acordos feitos para garantir a rentabilidade do negócio, segundo o executivo.
“Estamos trabalhando para garantir que as empresas de serviços em solo possam investir, a médio prazo, em tratores e rebocadores movidos a eletricidade e capacitar a mão de obra em programas de treinamento alinhados com os padrões globais, mas essa notícia é como um balde de água fria”, afirma Miguel. ““Precisamos que os órgãos reguladores estejam atentos a isso, pois uma cadeia como a aeronáutica é composta de elos, basta um fragilizado para o sistema colapsar.”
Em todo Brasil, são mais de uma centena de empresas de serviços em solo, atendendo voos regulares e não regulares, nacionais e internacionais todos os dias, com um contingente de cerca de 40 mil trabalhadores.