Junho tem sido um mês pródigo na celebração do talento artístico em todas as suas manifestações. Na ultima terça-feira, o cantor e compositor Ivan Lins completou 75 anos de vida. A data foi celebrada com uma live que contou com a participação de grandes nomes da nossa música.
Por sua vez, o escritor e homem dos sete instrumentos Luis Fernando Veríssimo completou 50 anos de crônica com o lançamento de um e-book comemorativo. Finalmente, no dia 18, relembramos os dez anos sem (ou com) Saramago, que nos deixou em 2010.
Ivan Lins: 75 anos
E lá se vão 50 anos desde que o público começou a conhecer sua obra: em 1970, quando Elis Regina lançava “Madalena” e Ivan conquistava o 2º lugar no FIC – Festival Internacional da Canção, enquanto era ovacionado por um Maracanãzinho lotado. Para reverenciar este verdadeiro embaixador da música brasileira pelo mundo, que está em isolamento social em Lisboa há três meses, foram produzidas duas atrações especiais.
O ator, cantor e compositor Claudio Lins, filho de Ivan, resolveu não deixar a data passar em branco. Já adaptado ao universo das lives (Claudio é um dos criadores do festival on-line #ZiriguidumEmCasa e, desde o início do confinamento, já produziu dezenas de lives caseiras), convidou um time de amigos músicos e cantores para participar da festa.
A ideia de Claudio foi a de o convidado se filmar tocando e cantando uma de suas músicas preferidas para um dueto com o próprio Claudio, que cantou ao vivo.
Confirmaram presença nomes de peso da música brasileira. Entre eles Roberto Menescal, Gilson Peranzzetta, Leila Pinheiro, Jorge Vercillo, Nelson Faria, Luciana Mello, Pedro Mariano, Lenine, Jair Oliveira, Jane Duboc e outros. A live Ivan Lins 75, foi exibida direto da Palco Em Casa (www.palcoemcasa.com.br) e faz parte do festival #ZiriguidumEmCasa. (www.ziriguidum.com).
Veríssimo: 50 anos de crônica
No final dos anos 1960, a seção de gastronomia do jornal gaúcho Zero Hora chamava atenção não apenas pela qualidade das receitas sugeridas, mas, principalmente, pelo estilo talentoso e bem-humorado com que eram escritas.
Não eram assinadas, mas logo se descobriu que eram de autoria de Luis Fernando, filho do grande romancista Érico Veríssimo. Era o início do hoje consagrado escritor, cronista, cartunista, ficcionista, saxofonista, gourmet e torcedor fanático do Internacional, um dos grandes nomes da literatura brasileira.
E, a partir da primeira crônica assinada (em 19 de abril de 1969, também no Zero Hora), Luis Fernando Veríssimo não parou mais. Produziu textos para diversos jornais do País – como o Estadão, para o qual escreve desde 1989.
Uma amostra dessa fabulosa produção poderá ser saboreada em Veríssimo Antológico – Meio Século de Crônicas, ou Coisa Parecida, que a editora Objetiva lança inicialmente apenas em e-book. Ainda sem previsão do lançamento da versão impressa.
Trata-se de uma seleção com mais de 300 crônicas, justamente aquelas que não pereceram com o tempo. “A boa crônica mantém a atualidade. Não só porque desvela o passado, mas porque é boa literatura. E não raro, em alguns casos, volta a ser atual, mostrando que a história é também cíclica. São as ironias do tempo, diria Veríssimo”, observa a editora Daniela Duarte, no prefácio.
Veríssimo só começou a escrever aos 32 anos, depois de ter passado por várias escolas de arte e desenho, inacabadas; de ter tentado o comércio “só para reforçar o mau jeito da família”. Além de ter passado por uma rápida carreira jornalística, de revisor e colunista de jazz a cronista.
Assuntos nunca faltaram, mas, ao longo do tempo, alguns temas foram mais recorrentes, como observa Daniela: recriações históricas, notadamente as da criação bíblica e as de grandes personagens da história mundial, relacionamentos amorosos, tramas policiais ou sátiras ao gênero, os flagrantes do dia a dia, a mística do futebol, o prazer da comida, a linguagem e as palavras, o posicionamento político e ideológico engajado, as reflexões sobre a condição humana e as hilárias previsões para o futuro.
10 anos sem José Saramago
A morte do escritor português José Saramago, no dia 18 de junho de 2010, causou comoção internacional. Na manhã daquela sexta-feira, o autor de 87 anos estava em sua casa em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, quando passou mal durante o café da manhã e, apesar de ter recebido auxílio médico imediato, não resistiu. A causa da morte foram complicações respiratórias provocadas por um fungo, além de uma leucemia crônica.
Os dez anos sem José Saramago foi o tema do encontro on-line promovido pela ação #SempreEmCasa, live sobre literatura que o tradicional encontro Sempre um Papo realiza em seus canais no YouTube e Facebook.
O jornalista Afonso Borges conversou com a também jornalista Pilar del Río. Ela foi casada com o escritor português e hoje preside a Fundação José Saramago, Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, e Carlos Reis, professor de Coimbra.
Em Lisboa, a data foi lembrada com a leitura do livro que escrevia quando morreu, Alabardas, Alabardas, publicado incompleto. A obra trata da ética de responsabilidade, questão central de seu trabalho literário, reflexo de sua atividade como cidadão.
Duas oportunidades para se discutir o legado do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1998. Dono de uma personalidade forte, controversa (especialmente em assuntos políticos e religiosos) e de uma escrita que ainda encanta, Saramago continua oferecendo temas para debates acalorados.
As preocupações com justiça marcaram a biografia desse filho e neto de camponeses, que nasceu na vila de Azinhaga, em 1922, e que viveu sob o regime de Salazar do qual Portugal só se livrou em 1974.
Seu primeiro romance publicado, em 1947, foi Terra do Pecado, quando passou a exercitar com o estilo, evoluindo livro a livro, e que encontrou seu caminho definitivo enquanto escrevia Levantado do Chão (1980).
Foi seguindo com essas experimentações até que seu nome fosse reconhecido mundialmente com Memorial do Convento (1982, editado no Brasil, assim como toda a obra do autor, pela Companhia das Letras). No livro criticou a exploração dos pobres nas mãos dos ricos.
Com isso, sua escrita passou a ter repercussão internacional, que culminou com a publicação do polêmico O Evangelho Segundo Jesus Cristo, em 1991. A fogueira voltou a arder em 1998, quando Saramago foi eleito pela Academia Sueca como vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, decisão foi atacada pelo Vaticano.
Com um caminho bem formado como escritor e pensador crítico do mundo, Saramago começou, com Ensaio sobre a Cegueira, uma trilogia involuntária ao lado de Todos os Nomes (1997) e A Caverna (2001), revelando sua visão de mundo na mudança de séculos. Lançado em 1995, o livro mostra como um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego.
É o primeiro caso de uma “treva branca” que logo se espalha incontrolavelmente. Isolados em quarentena, os cegos se percebem reduzidos à essência humana, em uma verdadeira viagem às trevas. É o ponto de partida para o escritor revelar sua visão aterradora e comovente de tempos sombrios.
Fontes: Correio do Povo (Porto Alegre), Diário da Região (São José do Rio Preto) e www.terra.com.br