Um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19, o setor de eventos voltou aos poucos à ativa ao longo de 2022. De congressos corporativos a festivais de entretenimento, os eventos tornaram a ser realizados de forma presencial. Mas não exatamente como eram feitos até o início de 2020. A crise dos últimos dois anos deixou lições que foram incorporadas ao segmento e algumas delas devem permanecer de forma definitiva.
A mais evidente, claro, é a preocupação ainda maior com a segurança e a saúde dos participantes. “Logo no início da pandemia, a FUNARJ elaborou o Protocolo de Segurança Sanitária do estado do Rio de Janeiro, que ordena a maneira de funcionar atendendo rigorosas medidas de proteção”, exemplifica José Roberto Gifford, presidente da FUNARJ (Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro).
“A fim de garantir um retorno seguro tanto para o público quanto para funcionários e produção, implementamos, até os dias atuais, em todos os nossos espaços culturais, o uso do filtro HEPA. É o mesmo utilizado em centros cirúrgicos e aeronaves. Além disso, também disponibilizamos totens com álcool em gel em diversas áreas”, complementa.
Mas há outro reflexo da pandemia que deve se manter na organização dos eventos presenciais: o maior uso da digitalização e a criação de alternativas, transmissões e conteúdos on-line. Isso vem levando alguns organizadores, inclusive, a não classificarem suas convenções ou feiras como presenciais, e sim como híbridas.
Kenji Saito, Diretor de Desenvolvimento e Ciências do Esporte do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e Diretor dos Jogos da Juventude, conta que, na edição 2022 do evento, a primeira desde 2019, a organização procurou uma alternativa tecnológica para garantir um maior engajamento dos atletas e de todos os participantes, inclusive familiares e visitantes.
“Adotamos um aplicativo personalizado por meio do qual pudemos promover o evento e seus patrocinadores. Também divulgamos a programação e os resultados dos jogos, além do quadro de medalhas e outras informações”, ele explica. “Um dos principais objetivos foi reduzir a quantidade de papéis gerados no evento e promover uma maior interação entre todos os envolvidos”, afirmou.
O aplicativo foi desenvolvido pela Yazo, empresa de tecnologia especializada em plataformas para realização e engajamento de eventos presenciais e virtuais. “O uso da ferramenta facilita a disseminação de informações, principalmente para uma geração de atletas altamente conectada às novas tecnologias. Esperamos evoluir cada vez mais nesse campo para as próximas edições”, completa.
Eduardo Frezarin, CEO da Yazo, conta que “no pós-pandemia, os eventos trazem um grande foco em experiências. Mesclando entretenimento, conteúdo e negócios.” No primeiro semestre de 2022, a empresa teve um aumento de 245% na demanda, atestando que os números do setor devem permanecer em alta.
“Os eventos mais inovadores do país estão apostando no conceito da gamificação como forma de aumentar o engajamento do público com o conteúdo e as marcas presentes. Também cresceu muito a oferta de atrações musicais, praças de alimentação com food trucks e atividades em ambientes abertos, combinando experiências on-line e offline”, Frezarin relata.
O Hacktown, evento de criatividade e inovação que acontece em Santa Rita do Sapucaí (MG), e que retornou em setembro depois de dois anos de ações exclusivamente on-line, também incorporou um aplicativo de engajamento exclusivo para os participantes.
“No Hacktown acontecem mais de 40 coisas simultaneamente. Então nossa ideia, ao adotar a ferramenta, foi facilitar a organização dos participantes”, conta João Rubens Fonseca, cofundador do evento. “Mas acabou que o aplicativo não só facilitou essa organização da programação. Ele também ajudou muito na conexão entre as pessoas presencialmente, por causa da comunidade criada na plataforma. Os participantes trocam experiências por ali, combinam de se encontrar em diferentes pontos do evento, falam quem são, quais são suas áreas de interesse. A utilização do aplicativo fortaleceu a essência do evento, que é e sempre será a conexão entre as pessoas.”
Conexões duradouras de perto e de longe
Ainda durante a pandemia, a FUNARJ lançou a plataforma FUNARJ EM CASA, com o objetivo de levar cultura ao público que, naquele momento, não podia frequentar salas de cinema, teatros ou casas de espetáculo, e também de oferecer apoio aos artistas e produtores culturais. Mesmo com a flexibilização das regras em relação ao isolamento e distanciamento social, a plataforma, também desenvolvida pela Yazo, segue em funcionamento.
“Ficou de aprendizado que a atuação on-line é algo que não dá para ignorar e nem voltar atrás. As ferramentas devem permanecer no dia a dia”, afirma José Roberto Gifford, presidente da fundação.
“É uma realidade em nosso trabalho, e todos ganham. A plataforma sempre tem novidades, tudo a preços populares. O espaço conta com uma variedade imensa de produções, como peças, espetáculos de dança, concertos, shows e talk shows; e tem o papel também de auxiliar o produtor, que recebe a maior parte da renda dos ingressos vendidos. É indescritível finalmente ver os teatros, salas de concerto, museus com o público comparecendo em sua totalidade e normalidade. Mas, ainda melhor, é poder oferecer os mesmos espetáculos para quem está fora da cidade, e poder contribuir para o produtor e a difusão da arte em sua amplitude.”
João Rubens Fonseca, do Hacktown, concorda que fazer o presencial e o on-line devem permanecer a passarão a andar de mãos dadas: “Pela forma como construímos o Hacktown, sabemos que ele nunca foi um evento de conteúdo: ele é um evento de conexões entre as pessoas. O presencial é insubstituível. A gente não tem como mensurar o número de conexões que acontecem no Hacktown e que podem dar frutos no futuro. Mas a gente sabe que promover essa conexão entre as pessoas pode ajudar a fornecer meios para que elas continuem conectadas depois. É a fagulha para que coisas incríveis aconteçam no mundo. O papel dos eventos, seja em qual formato for, é justamente esse.”