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Setor turístico recorre a crédito para se reinventar

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O mercado turístico, que projetava celebrar o crescimento dos negócios em 2020, tornou-se um dos mais afetados pela pandemia do coronavírus.

Em dezembro do ano passado, o Brasil estava entre os três principais destinos emergentes do mundo para 2020, segundo o relatório global Tendências de Viagens 2020 do Skyscanner, líder mundial em viagens.

O país registrou 27% de crescimento nas buscas globais no comparativo com a procura registrada para 2019. São Paulo aparecia em sexto lugar na lista de destinos, tendo como foco a gastronomia local da cidade.

Diante do novo cenário, o Desenvolve SP, instituição financeira do Governo do Estado, disponibilizou um mecanismo de crédito voltado especialmente ao auxílio às micro, pequenas e médias empresas ligadas direta ou indiretamente ao setor turístico.

“Estudamos muito a situação. Com a interrupção das atividades, o setor turístico foi avaliado como um dos que mais seriam afetados pela pandemia. Junto ao da cultura e economia criativa e do comércio, e faltaria liquidez nas empresas. Por isso, ainda em março, no início da pandemia, lançamos uma linha exclusiva com condições diferenciadas para estes setores. O auxílio emergencial para as empresas é o capital de giro”, afirma o Presidente do Desenvolve SP, Nelson de Souza.

O crédito possibilitou às empresas a manutenção de empregos. E também a adaptação às condições impostas pela crise sanitária. Abel Simões Ferreira, proprietário da Panificadora Recreio do Okinawa, do município de Paulínia, migrou os atendimentos para o delivery.

“Inicialmente, nos afetou muito. Tivemos uma queda de faturamento de 70%. Perdemos toda a parte de atendimento para café da manhã, almoço e jantar. Parte dos recursos obtidos foi para o pagamento de salários, e outra para os fornecedores. Com este fôlego, passamos a atender via Whatsapp. Partimos de mil contatos e hoje já estamos com mais de 6 mil clientes sendo atendidos por lá. Quando fechamos as portas, servíamos mil e duzentas refeições por dia e agora servimos cerca de três mil e quatrocentas. Também aumentamos em 20% nossas vendas de pizzas por delivery e conseguimos reduzir a queda de faturamento para 22%”.

De Sorocaba, o administrador do Cardum Palace Hotel, Eduardo Cardum, conta que, por ser um hotel voltado a viagens corporativas, considerado serviço essencial, as atividades não foram paralisadas, mas foi necessário se adequar aos protocolos sanitários.

“A pandemia chegou e rapidamente mudou todo o planejamento e cotidiano da empresa. De uma hora para outra, precisamos investir em adequações nas instalações e no departamento pessoal. Os recursos nos trouxeram mais tranquilidade para sobrevivermos a esse período tão difícil. Graças a eles, também conseguimos manter nossas contas em dia”, comemora o administrador do Cardum Palace Hotel.

A Villafrati Alimentos, empresa cuja atividade principal é o fornecimento de massas e molhos para companhias de catering aéreo, empresas, escolas, redes de franquias e restaurantes, teve seu faturamento reduzido em 90% logo no início da pandemia.

“Buscamos alternativas para continuar funcionando. Usamos o crédito para pagamento de funcionários e fornecedores, o imprescindível para continuarmos operando”, conta a proprietária, Adriane Dias.

Gustavo Oliveira, sócio-administrador do Hotel KK, localizado no município de Itu, conta que “quando a pandemia começou, iniciamos um planejamento emergencial com foco em captar recursos no mercado. Fizemos o processo de solicitação virtual com o Desenvolve SP. Conseguimos taxas muito abaixo do mercado, o que nos ajudou a cobrir prejuízos e manter os empregos de nossos funcionários.”

André Soares, representante da Pizzaria Del Vecchio, de Boituva, também socorreu a empresa por meio de linha de crédito operada pelo Desenvolve SP: “Com a chegada da pandemia nosso atendimento presencial acabou. Tivemos uma queda bastante brusca e repentina no faturamento. Com o recurso, conseguimos continuar pagando nossos funcionários e honrando nossas contas com fornecedores”.

Recursos

Desde o início da pandemia, o Desenvolve SP já liberou para as empresas do setor turístico mais de R$ 91 milhões pela linha Fungetur giro. Outras operações que correspondem a quase R$ 64 milhões foram aprovadas e seguem para liberação, totalizando mais de R$ 154 milhões em crédito para o setor turístico. No início de setembro, o Ministério do Turismo e o Desenvolve SP fecharam parceria para destinação de mais R$ 400 milhões a empresas via Fungetur. O aditivo amplia a capacidade de auxiliar a recuperação e retomada das empresas paulistas de um dos setores mais impactados pela pandemia do coronavírus.

Através do Desenvolve SP, os recursos são disponibilizados por meio de linhas de crédito com condições facilitadas – taxas reduzidas e prazos estendidos. As empresas podem solicitar crédito para capital de giro e financiamento para projetos de investimento, máquinas e equipamentos. As condições das três linhas Fungetur compreendem juros reduzidos de 0,41% ao mês e prazo estendido de até 120 meses, com até 36 de carência, além de garantia por meio do Fundo Garantidor e aval dos sócios.

Como solicitar

Micro, pequenas e médias empresas com faturamento anual entre R$ 81 mil e R$ 10 milhões, Certificação Digital E-CNPJ, cadastro ativo no CADASTUR e Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE relacionado a atividades turísticas podem realizar a solicitação de crédito pelo site do Desenvolve SP: www.desenvolvesp.com.br. De forma simples e desburocratizada, todo o processo é realizado online.

Podem ter acesso ao crédito empresas das áreas de acampamento turístico, agências de turismo, meios de hospedagem, parques temáticos, transportadora turística, casas de espetáculos e equipamentos de animação turística, centro de convenções, empreendimento de apoio ao turismo náutico ou à pesca desportiva, empreendimento de entretenimento e lazer e parques aquáticos, locadora de veículos, organizadores de eventos, prestadores de serviços de infraestrutura de apoio a eventos, prestadores especializados em segmentos turísticos, além de restaurantes, cafeterias e bares. Confira todos os CNAES atendidos pela linha Fungetur.

Setor turístico recorre a crédito para se reinventar

Impacto

Segundo estudo da FGV, o Brasil tem experimentado uma trajetória de crescimento do turismo tanto do ponto de vista doméstico como em número de chegadas internacionais. Dados do IBGE indicam que o turismo no país contribui, diretamente, para cerca de 3,7% do PIB nacional e 3% do total de empregos no país. No turismo internacional, o Brasil saiu de um patamar de 4,1 milhões de chegadas internacionais de turistas em 2003, para um resultado superior a 6 milhões nos últimos anos.

Um estudo da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo projetou que, dos 46,3 milhões de turistas previstos no Estado, 2020 deverá somar 29,5 milhões no cenário mais provável, com perda de quase 17 milhões de viajantes. Em movimentação financeira, o previsto antes da pandemia chegava a R$ 43 bilhões; agora, R$ 26,1 bilhões — R$ 16,9 bilhões a menos. Outra análise da FGV aponta que o PIB do turismo deve sofrer uma perda de 39% em 2020, em comparação com 2019.

Outra pesquisa da Secretaria de Turismo de São Paulo com a USP mostra que há boas perspectivas para a retomada do setor no Estado. Impulsionada principalmente pela popularização de novos destinos e interesse por viagens de proximidade, a atividade pode gerar R$ 13,1 bilhão à economia paulista nos próximos meses e será possível recuperar os 138 mil empregos perdidos com a pandemia até novembro de 2021.

Em torno de 210 setores da economia têm alguma relação com o turismo. “No mundo todo, o turismo é um dos setores mais afetados pela pandemia. Por isso é tão importante o investimento público para impulsionar sua retomada”, completa Nelson de Souza.

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