Corredores movimentados e plateias lotadas. Esse foi o panorama do pavilhão no segundo dia de WTM Latin America, maior e mais importante evento B2B de turismo na região. Nos três teatros temáticos – Explore Technology, Explore Transformation e Explore Trends, o que se viu foram debates sobre tendências, desafios e temas essenciais para o dia a dia do trade turístico.
A tarde começou com uma capacitação sobre o Mato Grosso do Sul para os participantes do programa Agente na Estrada. Um dos destaques foi a rota gastronômica pantaneira, um atrativo extra para quem visita o Pantanal, e a região da Serra do Amolar, a “mais profunda” de todo o bioma, onde se tem o mais real contato com a vida selvagem.
As paisagens únicas do bioma, a prática de pesca esportiva, cavalgada e safari noturno, também foram abordadas pelo estado que comemora o recorde de visitação em 2022.
Para obter resultados ainda melhores em 2023, o estado trouxe à WTM Latin America uma caravana com dezenas de empresários locais. “A WTM é uma grande vitrine para nós, e estamos aproveitando que estão aqui agentes de viagens, operadores, influenciadores nacionais e internacionais, os principais players do mercado, para reforçar os atrativos e apresentar as novidades”, disse Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul.
O restante do dia foi marcado por debates atuais sobre temas diversos, que vão da acessibilidade em viagens à demanda hoteleira na América Latina. A última sessão do segundo dia de evento destacou as 17 iniciativas da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Equador vencedoras do Prêmio de Turismo Responsável.
Acessibilidade e inclusão
“A Tecnologia que Transforma – Acessibilidade e Inclusão Funcional nas Viagens” foi o tema de um painel com a participação de Jéssica Paula, jornalista e idealizadora da plataforma Passaporte Acessível e com deficiência física desde a infância; Ricardo Shimosakai, cadeirante, agente de viagens e especialista em acessibilidade e inclusão voltados para o Turismo; e Janaína Bernardino, deficiente visual e especialista em design inclusivo.
Shimosakai destacou algumas experiências pessoais de estabelecimentos mal preparados para recebê-lo. Como banheiros com barras mal posicionadas, pequenos elevadores difíceis de operar em vez de simples rampas para acessar os locais, e adaptações nos quartos de hotéis que, ainda que tenham beneficiado a acessibilidade, tiraram itens de conforto do quarto para ter mais espaço livre, tornando a hospedagem menos proveitosa.
“É preciso conhecer os hábitos de quem viaja, inclusive dos que têm necessidades especiais. Assim se evita trazer ‘soluções’ que na verdade atrapalham mais do que ajudam”, alertou.
Tendências em viagens
Do palco do Explore Trends, Roberto Nedelciu e Marina Figueiredo, respectivamente presidente e vice-presidente da Associação Brasileira de Operadores de Turismo (Braztoa), anteciparam insights do anuário que será lançado na próxima semana. Os dados apontam para nove tendências dos viajantes, coletadas em pesquisas com as 56 operadoras associadas.
Um dos destaques é a busca por experiências coletivas, ou seja, viagens em grupos de pessoas com interesses em temas particulares. “Esse movimento é benéfico a todos, já que o cliente consegue preços mais competitivos e o mercado tem uma venda mais fácil e rentável”, defendeu Roberto.
A lista inclui, ainda, as vivências imersivas, conforto e descanso, viagens em família, roteiros para o público maduro, viagens responsáveis, viagens como prioridade e experiências o ano inteiro. “Os destinos estão com um novo olhar sobre a sazonalidade, criando eventos e atrativos em períodos alternativos, uma tendência que veio durante a pandemia e segue ativa”, complementou Marina.
A nova jornada
Head de Travel do Google, Débora Bonazzi apresentou dados sobre “A Nova Jornada do Viajante”, com as tendências de demanda por viagens que diferem do período pré- pandêmico. Os dados foram otimistas, com o Google verificando que há cerca de 10% mais viajantes habituais em 2023 em comparação com 2019, a julgar pelas buscas que fazem na plataforma. Além disso, as buscas por hotéis quase dobraram, na mesma comparação.
Uma mudança importante aconteceu no modo de transporte: enquanto as buscas por passagens aéreas caíram 3%, a procura por viagens de ônibus cresceu 26%. Também foram apresentados dados sobre os hábitos de viagem da Geração Z, que deverá se tornar a mais numerosa dentro de alguns anos.
Segundo o Google, esse viajante é menos apegado a marcas e mais ávido por experiências autênticas e contato próximo com culturas locais, além de ser mais preocupado com a sustentabilidade. Seus destinos mais procurados para viagens internacionais estão na América Latina e na Ásia.
Afroturismo
Um time de peso subiu ao palco do Explore Transforrmation Theatre para tratar de um dos temas que ainda carece de muito aprendizado por parte do trade. “O afroturismo e o agente de viagens: o que eu preciso saber?” teve o conteúdo focado na cadeia de vendas e a participação de Bia Moremi (Brafrika Viagens), Guilherme Soares Dias (Guia Negro), Heitor Salatiel (gestor de experiências culturais e turísticas) e Nilzete dos Santos (Afrotours).
“Nossa proposta é mostrar a verdadeira história de uma cidade por meio de vivências e experiências que agregam. Queremos ensinar o que não se aprende na escola e é totalmente possível oferecer uma vivência como essa como um complemento ao pacote turístico. O trade turístico precisa abrir a mente para essa oferta”, pontua Nilzete, acrescentando que sua empresa recebe demandas de viajantes da Rússia, Japão e de diversos países europeus.
Viagens de incentivo
Uma pesquisa da Associação Latino-Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev) mostrou que o mercado de viagens de incentivo voltou da pandemia com tendências promissoras. O estudo avaliou os aspectos mais importantes desse tipo de viagem, tanto para as empresas que enviam funcionários quanto para as agências que cuidam dos deslocamentos – ambas com expectativas de aumentar o volume de orçamentos no futuro próximo.
Segundo a Alagev, o retorno sobre o investimento (ROI) agora é o principal fator considerado para demonstrar o valor das viagens de incentivo. As empresas também valorizam o desenvolvimento profissional dos colaboradores que viajam, enquanto as agências consideram que o poder de promover experiências únicas e um serviço de qualidade são os principais atrativos para convencer os clientes a usar viagens de incentivo.
Também foram considerados os destinos mais frequentes e as preocupações das empresas ao realizá-las. “Você vê o mercado doméstico mais aquecido, embora o internacional também esteja crescendo. Mas é algo dinâmico e muito motivado por questões específicas como o câmbio e a fila para vistos dos Estados Unidos, por exemplo”, avaliou Sandra Roscito, da BWH Hotel Group.
“Um aspecto que veio para ficar é a responsabilidade social. Ela está entre os temas que a gente vê cada vez mais nos orçamentos pedidos. É a política de ESG que veio para ficar, e agora todos precisam ter”, complementou Anay Gremaud, do Enjoy Punta del Este Resort & Cassino.
Demanda por hotelaria
Outro estudo apresentado veio da OTA Insight, que reúne dados de mais de 60 hotéis no mundo. O team leader da empresa para a América Latina, Ricardo Souza, apontou para um aumento na demanda por hospedagens em 2023 em relação a 2022.
“Na grande maioria dos mercados, o primeiro semestre teve demanda superaquecida, principalmente por causa da realização de grandes eventos, como festivais musicais. O segundo semestre não deve ser tão exorbitante, mas ainda será melhor que o do ano passado”, analisou.
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, a demanda por hospedagens em janeiro e fevereiro deste ano cresceu acima de 20% sobre o mesmo período de 2019. Outros mercados, como Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Gramado (RS), também apresentaram expectativas positivas para a alta temporada. A tendência de recuperação das margens de lucro também foi observada.
Nas hospedagens no Rio de Janeiro, o valor chega a ser 180% maior do que em 2019, segundo a OTA Insight. Os destinos do Nordeste também tiveram altas consistentes de preços. Porto Alegre foi a exceção, ainda praticando preços mais baixos do que no período pré-pandêmico.
Prêmio de Turismo Responsável
O dia também foi marcado pela entrega do Prêmio Turismo Responsável, criado para reconhecer os avanços, abrir espaço para a replicação de cases de sucesso e a construção conjunta de um mundo mais sustentável. A organização comemorou 66 inscritos e destacou os 17 vencedores na edição dedicada a Ariane Janér. “Ela pavimentou o caminho para o ecoturismo no Brasil”, pontuou Gustavo Pinto, coordenador da premiação.
A premiação faz parte da família de prêmios Global Responsible Tourism Awards, criados há oito anos para validar boas práticas dentro da indústria do turismo. Os finalistas das seis categorias foram julgados por oito profissionais de diferentes áreas de todo o continente, de acordo com três quesitos: originalidade, impacto e potencial de replicação dentro da indústria do turismo. Conheça as categorias e os vencedores:
Melhores soluções para gestão de resíduos plásticos
Gold – Raízes Desenvolvimento Sustentável
Gold – Preserve Pipa
Silver – Wilderness Patagonia
Melhores conexões significativas
Gold – La Moya
Gold – Mobiliza SLZ
Silver – Quinti Ecuador
Silver – Ype
Melhores modelos de compras locais, artesanato e alimentação
Gold – Antioquia es Magica
Silver – Rota do Enxaimel SC
Abordando as mudanças climáticas
Gold – Say Hueque
Silver – Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul
Melhores soluções para a promoção da diversidade e inclusão
Gold – La Union Coffee Farm
Gold – Rede BATUC — Turismo Comunitário da Bahia
Silver – Diáspora Black
Melhores iniciativas para a conservação da natureza
Gold – Las Torres Patagonia
Gold – Toca do Kaynã
Silver – Wilderness Patagonia